
Opinião
Mais uma vez, a fé, a tradição religiosa foi deixada em segundo plano em Piedade do Paraopeba. Mais uma vez o Setransb – o Serviço de Trânsito de Brumadinho, NÃO esteve presente para organizar o trânsito ou garantir o mínimo de segurança para os fiéis durante as festividades religiosas no distrito. Nesse domingo, 8 de junho, quando a comunidade católica celebrava Pentecostes — uma tradição centenária que atravessa gerações — nenhum agente do departamento de trânsito da prefeitura foi até o local. Foi preciso que os próprios moradores interditassem parcialmente parte da via, na hora da tradicional procissão, para que os fiéis pudessem expressar seu momento de fé.
Esse não é um caso isolado, tampouco uma surpresa. A falta de apoio às festividades religiosas e culturais do distrito já se tornou uma triste rotina. Trocam-se os gestores, mas o descaso permanece. A impressão é clara: eventos com raízes populares e históricas não são prioridade. O que se vê são esforços concentrados em megafestivais e outros eventos, muitos sem qualquer ligação com a identidade local, mas que movimentam cifras altas e recebem toda a infraestrutura necessária.
Piedade do Paraopeba é um dos distritos mais antigos de Minas Gerais. Sua importância vai além da religiosidade. É um lugar que carrega em suas ruas, igrejas e celebrações a memória de um povo, de uma cultura profundamente mineira e que existe muito, mas muitos antes de Brumadinho ser emancipado. Ignorar isso é desrespeitar não apenas a fé, mas a própria história do município.
A ausência do serviço de trânsito da prefeitura no evento de Pentecostes é mais do que um erro logístico — é um sintoma de uma política cultural falha, que privilegia o que é novo e lucrativo em detrimento do que é tradicional e significativo. O fato de moradores e fiéis precisarem assumir o papel do poder público, organizando o trânsito e tentando garantir a segurança da procissão, é lamentável.
É preciso cobrar responsabilidade. Cultura e tradição não podem ser lembradas apenas em discursos ou materiais de divulgação turística. Elas precisam ser vividas, respeitadas e, sobretudo, apoiadas. Chega de invisibilizar o que realmente importa. Que as autoridades acordem para o valor daquilo que é genuíno e façam do respeito à fé e à tradição um compromisso de verdade — e não apenas uma promessa de campanha.