
Um projeto de requalificação urbanística no entorno da Igreja tricentenária de Nossa Senhora da Piedade, em Piedade do Paraopeba, em Brumadinho, tem gerado polêmica entre os moradores da região. A principal crítica é em relação à instalação de um muro tipo “gabião” – estrutura composta por pedras contidas em gaiolas de arame –, que, segundo a população, pode comprometer e descaracterizar a paisagem histórica e arquitetônica do local.
Uma reunião devolutiva foi marcada às pressas e divulgada horas antes do encontro na comunidade, realizado nessa terça-feira, 20, pelo secretário municipal de Governo, Guilherme Morais e o secretário municipal de Meio Ambiente, Daniel Hilário, com a participação de vários funcionários da Vale, na tentativa de aprovação do projeto.
Mas, a obra foi totalmente rejeitada pela comunidade, que manifestou preocupação com a falta de transparência no processo e a ausência de divulgação adequada do encontro. Muitos alegaram ter tomado conhecimento da obra apenas no dia da reunião, sem tempo hábil para discutir alternativas ou apresentar sugestões.

De acordo com a própria prefeitura, o projeto teria sido elaborado pela Vale, com aprovação da antiga gestão e acompanhada por diversos órgãos, inclusive o Ministério Público de Minas Gerais. A intervenção já estaria prevista para iniciar no dia 9 de junho e seria custeada com recursos provenientes do acordo de reparação pelo rompimento da barragem da Vale, conforme informou a prefeitura. No entanto, os moradores alegam que não foram devidamente consultados sobre a obra, que ocorrerá no entorno da igreja tricentenária, tombada como patrimônio histórico municipal.
Membros da Associação Comunitária de Piedade do Paraopeba também questionaram se o projeto respeita as diretrizes de preservação do patrimônio histórico e paisagístico. Após uma série de indagações, o projeto foi cancelado e um novo estudo deve ser feito com a participação ampla dos moradores e organizações locais da sociedade civil organizada. A Arquidiocese de Belo Horizonte também oficializou a prefeitura de Brumadinho nessa terça-feira, 20, sobre o projeto e disse também não ter sido consultada.
Outras entidades como, a Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais – N’Golo, o Comitê Popular da Zona Rural de Brumadinho – Piedade do Paraopeba, o Fórum de Atingidos e Atingidas pelo Crime da Vale em Brumadinho e outras lideranças da comunidade quilombola do Gunga, localizada no distrito, também contestaram o projeto e solicitaram a realização da consulta pública, respeitando os modos de organização da comunidade quilombola do Gunga, suas tradições, seu calendário e os prazos necessários.