Transtorno dissociativo com fertilidade de bebês Reborn

A situação é considerada grave, pois pode deixar o indivíduo disperso pelo devaneio excessivo, provocando diversas fantasias, afetando o cotidiano e o relacionamento social

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Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, psicanalista e psicopedagoga

Você já viu um bebê reborn? Eles são bonecos muito bonitos, fofos e chamam atenção, sobretudo, pela similaridade com um bebê verdadeiro, atraindo o olhar das pessoas devido à perfeição dos detalhes. Os bebês reborn conquistam cada vez mais a sociedade, mas, infelizmente, por um motivo um tanto inusitado: a maternidade e o que está por trás desses comportamentos.

A invenção desse tipo de boneca, não é recente, sendo adquirido para a brincadeira entre crianças e por colecionadores, há alguns anos. O problema está no fato de o “reborn” deturpar a função lúdica e pedagógica desse brinquedo, assustando indivíduos que não compreendem se a situação é uma brincadeira ou completamente verdadeira.

A verdade é que se tornou cada vez mais fácil encontrar dezenas de vídeos de adultos, pela internet e redes sociais, agindo como se os bebês possuíssem vida, compartilhando o cotidiano como mães ou pais desse tipo de bebê. Alguns desses vídeos são bastante polêmicos por mostrarem os brinquedos “nascendo”, sendo levados para filas – em busca de atendimento prioritário -, consultas médicas em postos de saúde público e, até mesmo, sendo objeto de disputas judiciais de casais em processo de divórcio.

As atitudes movimentam o cotidiano digital e também estão sendo notícias sobre as ações políticas de elaboração de projetos de leis para frear as condutas esdrúxulas. Algumas delas envolvem planos para proibir o atendimento dos bebês em redes de saúde pública e aplicar multas para quem usar os bonecos para furar filas, sendo que alguns políticos mais extremistas defendem a internação compulsória. A Justiça do Trabalho também se manifestou sobre a situação, alertando que não existe licença para esse tipo de maternidade.

A questão é que está por trás de tantos pais de bebê reborn? A resposta da ciência é a imaginação, construída pelo cérebro a partir da realidade e experiência de cada indivíduo, sendo considerada uma alucinação controlada. O que delimita a imaginação e a realidade, é o nível de ativação neural, permitindo ao órgão, identificar algo como real ou imaginado, o que por vezes, falha, a ponto de originar problemas, como os transtornos dissociativos, devido ao excesso.

A situação é considerada grave, pois pode deixar o indivíduo disperso pelo devaneio excessivo, provocando diversas fantasias, inclusive, a ponto de afetar o cotidiano e o relacionamento social.

As pessoas acabam encontrando diversos motivos para “adotar” esses bebês, quer seja por serem fofos, devido ao gosto pela maternidade, porém, sem um filho de carne e osso, demandando muita responsabilidade, ou ainda por algumas mulheres incapazes de realizar o sonho de gerar o próprio bebê.

Os brinquedos também estão sendo adquiridos para idosos com intuito terapêutico, visando auxiliar em relação ao alzheimer, demência ou para aqueles que se sentem solitários.

A era digital deixa tudo isso mais intenso, sendo importante valorizar o equilíbrio, seja através do afastamento da internet – para focar mais no mundo real – assim como também pelo acompanhamento profissional.

As pessoas sonham com outras realidades, situação considerada completamente normal, desde que executada de maneira saudável e sem consumir o dia a dia, a ponto de confundir o real e o imaginário, comprometendo a qualidade de vida.

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