Moradores contestam atuação da Vallourec e denunciam perseguições

A situação teria piorado depois de várias manifestações contrárias a atuação da empresa na região

As ações da Vallourec Mineração, no Distrito de Piedade do Paraopeba, em Brumadinho, tem provocado reações entre moradores da região e as discussões se tornaram ainda mais intensas nas últimas semanas. A situação teria piorado depois de várias manifestações contrárias a atuação da empresa, principalmente depois de ter iniciado uma obra no vertedouro da barragem Santa Bárbara, na mina Pau Branco.

Segundo os moradores, a Vallourec tem agido sem transparência e intimidando pessoas na comunidade. Eles alegam que a mineradora tem mapeado e constrangido quem participa dos atos. Parte do grupo disse estar se sentindo ameaçado e sofre perseguição.

A relação entre a empresa e a comunidade esquentou na última terça-feira, quando uma reunião foi realizada em Piedade do Paraopeba. Moradores afirmam que a empresa convocou os funcionários em massa para participarem do encontro, para tentar intimidar as ações do grupo contrário e impedir os questionamentos a serem feitos, que segundo eles, sempre eram interrompidos por algum funcionário.

Eles questionam também que a reunião não foi transmitida via internet, conforme solicitado anteriormente, para que outras pessoas pudessem participar, o que segundo os manifestantes, a empresa não quer dar transparências as ações, principalmente sobre a obra do vertedouro da barragem Santa Bárbara.

Em junho deste ano, a Vallourec Mineração iniciou a obra de adequação do vertedouro da barragem Santa Bárbara, localizada no Distrito de Piedade do Paraopeba. Segundo a empresa, a obra segue as exigências da ANM – Agencia Nacional de Mineração. A barragem teve seu nível de segurança elevado de 0 para 1, após inspeção da ANM e por isso, há necessidade de ampliar a vazão de água da estrutura. A classificação do nível de segurança de barragens vai de 0 a 3, sendo que, 0 significa totalmente segura e 3 é o estado crítico da estrutura, com risco eminente de rompimento. A previsão é que as obras sejam concluídas em novembro.

Mas, líderes comunitários contestam a empresa. Para os representantes da comissão SOS barragem, criada em 2019, após o rompimento da barragem da Vale, na Mina Córrego do Feijão, a barragem Santa Bárbara possui uma grande quantidade de sedimentos de minério, um verdadeiro repositório de lama tóxica. “A barragem Santa Bárbara tem mais de 20 anos e mais de 60% dela hoje é composta de sedimentos. O risco é real, a mineradora mente e temos previsões de chuvas muito fortes pela frente. Com a desculpa de realizar essa obra emergencial, desmataram e estão mexendo próximo da estrutura da barragem. Vamos lutar até o fim pelo descomissionamento, para que Piedade do Paraopeba e região fique totalmente livre deste tormento, de conviver diariamente com isso sobre nossas cabeças, afirma Sebastião Francisco, um dos membros da Comissão SOS Barragem.

Outras entidades também acompanham o caso e denunciam os abusos cometidos pela empresa. “As estratégias da mineradora são bem claras. Ela usa um ‘Comitê Popular’, que é mantido por ela mesma, usa os funcionários, parte moradores da comunidade, para validar suas ações. Quanto ela é confrontada e desmentida sobre os modus operandi desta suposta obra emergencial, pessoas sofrem perseguições quando se opõe às suas atividades duvidosas, declara Fernanda Perdigão, do Comitê Popular da Zona Rural de Brumadinho e defensora dos Direitos Humanos.

O jornal Folha de Brumadinho procurou a Vallourec para falar sobre a situação. Em nota, a mineradora informou que atua de maneira transparente e sempre aberta ao diálogo, tendo como prioridade o bom relacionamento com a comunidade de Piedade do Paraopeba/Brumadinho. Um dos principais meios para esse contato é o repasse mensal de informações, realizado em reuniões presenciais, também transmitidas online desde o início da pandemia, para que a informação compartilhada alcance ainda mais pessoas. A Empresa esclarece ainda que não induz a participação de seus colaboradores que, quando presentes, participam das reuniões por serem moradores da região e, portanto, têm o mesmo acesso que a população local às informações.

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