Exclusivo: funcionários terceirizados da Vale denunciam carga horária excessiva

Motoristas estariam sendo forçados a trabalhar aproximadamente 12 horas por dia. Nos últimos meses houve vários acidentes no local

O jornal Folha de Brumadinho recebeu nos últimos dias, dezenas de denúncias a respeito de possíveis irregularidades na escala de trabalho de uma empresa terceirizada da Vale, a ETC Transportes, responsável pela retirada de rejeitos de minério, na zona quente, local da tragédia da barragem B1, em Córrego do Feijão, que rompeu em janeiro de 2019, matando 272 pessoas. A área é onde os militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais ainda fazem o trabalho de buscas pelos corpos dos desaparecidos, vítimas da tragédia. Quatro pessoas ainda não foram encontradas.
 
Em um documento, em que o jornal teve acesso, na nova jornada de serviços imposta aos trabalhadores, eles estariam sendo forçados a trabalhar aproximadamente 12 horas por dia, numa escala de 2×3, ou seja, trabalham 6 dias direto, folga 1 e depois trabalhariam mais 5 dias e folgariam 2 dias. Funcionários relatam que estão tendo que acordar às 4 horas da manhã, para iniciarem as atividades às 6h45 na área de trabalho e retornariam para suas casas por volta das 20h.
 
A nova escala de trabalho preocupa os trabalhadores, já que muitos motoristas estão exaustos, fadigados e estressados. “Esse novo quadro de trabalho vai prejudicar muito a qualidade de vida de todos nós motoristas e colocar em risco nossas vidas”, afirma um funcionário que não será identificado.
 
Um outro trabalhador, que também não terá seu nome revelado, afirma que muitos funcionários estão com sérios problemas de saúde. “Chego todos os dias em casa com dores fortes de cabeça, gastura na barriga (sic), enjoos, muita poeira, ônibus cheios e muito cansaço” afirma.
 
Durante a reportagem, alguns trabalhadores relataram também assédio moral e abuso de poder, já que alguns diretores e encarregados estariam ameaçando demitir funcionários que não aceitam as normas de trabalho. “Simplesmente chegam pra gente e falam que se não estiverem satisfeitos, que podem ir na sala, que eles resolvem, que eles mandam embora. Que lá fora tá cheio de gente”, explica um trabalhador que terá seu nome preservado. 

Nos últimos meses, vários acidentes envolvendo caminhões foram registrados dentro da área da barragem. O último ocorreu na semana passada, quando um caminhão carregado de rejeitos tombou no local. O motorista foi socorrido por uma equipe médica e não teve ferimentos.  
 
Procurada, em nota, a Vale disse que fiscaliza as atividades das empresas contratadas, para que estejam em conformidade com as normas de segurança do trabalho, a legislação e o contrato firmado. A empresa esclarece ainda que o contrato com a ETC tem o objetivo de apoiar o Corpo de Bombeiros no trabalho de buscas pelas vítimas ainda não encontradas. Nós não conseguimos contato com os responsáveis pela empresa ETC Transportes.