Turismo rural: produtores abrem suas portas para compartilhar o dia a dia no campo

Objetivo é vivenciar um pouco a vida dos trabalhadores em uma imersão regada a boa prosa, comida de verdade e cheiro de mato

Na contramão do turismo de massa, produtores rurais de Brumadinho abrem as portas de suas casas para receber turistas interessados em vivenciar um pouco da rotina no campo. Uma imersão regada a boa prosa, comida de verdade e cheiro de mato, que vem conquistando pessoas de diversas partes do Brasil. A proposta integra o catálogo Céu de Montanhas, publicação da Vale com curadoria do designer Ronaldo Fraga, que reúne experiências turísticas inéditas no município.

Ramon Fiuza acorda às 5h30, toma seu café da manhã e começa as atividades no Aprisco Chèvremón, zona rural de Brumadinho. O manejo diário das 85 cabras do rebanho não é tarefa simples, garante o produtor. Os animais têm nome próprio, muita personalidade e características que precisam ser respeitadas. “A gente olha de longe e acha que todas são iguais, mas não é assim, cada uma tem uma persona. Uma é mais desconfiada, outra mais amorosa. Até a forma de tirar o leite é diferente, cada uma tem seu tiquetique. A Camila, por exemplo, adora interagir. Ela gosta de fazer carinho nas pessoas. É incrível”, conta.

O leite de Camila, de Clara, de Jana, de Amora e das tantas outras cabras de Ramón sai do aprisco direto para a queijaria, ali mesmo no quintal. Lá, o produtor passa horas criando e reinventando receitas tradicionais de queijos mineiros e franceses – produtos artesanais que agradam os paladares mais apurados. Do queijo curado ao pão de queijo – na chácara Chevremón, tudo é feito com leite cabra. “Criei vários queijos diferentes a partir da experimentação. O arengueiro, por exemplo, tem um processo de cura de mais de dois anos”.

Ramón recria queijos mineiros e franceses utilizando leite de cabra. (Foto: Bárbara Oliveira| Instituto Rede Terra)

Desde 2021, Ramón compartilha com visitantes seu jeito único de tratar cabras e fazer queijos. “Eu adoro receber as pessoas aqui, acho que é uma troca, a gente ensina e aprende também”. Durante a vivência, que dura cerca de duas horas, o visitante passeia pelo curral, conhece as cabras, participa de atividades de manejo, aprende um pouco sobre a fabricação de queijos, faz uma degustação completa e se diverte com os “causos” e histórias de Ramón.

A vivência no Aprisco Chèvremón termina com uma degustação completa, que inclui queijos, pães de queijo e doce de leite de cabra. (Foto: Bárbara Oliveira| Instituto Rede Terra)

A alguns quilômetros dali, no Sítio Fotossíntese, a casa cheia já faz parte da rotina de Gustavo Morais Dias e Nina Morais. As visitas começaram de forma despretensiosa e, hoje, são uma das principais atividades do casal. “Quando começamos a cultivar e comercializar os produtos da nossa horta, há cerca de três anos, o pessoal teve interesse em conhecer a estufa de tomatinhos. Começamos oferecendo um café com produtos do quintal e mais recentemente, incentivados pelo catálogo Céu de Montanhas, criamos o ‘Mussá`”, explica Gustavo.  

A experiência do Mussá é a mistura perfeita de acolhimento, natureza e culinária afetiva. Durante quatro horas, os visitantes fazem uma verdadeira imersão na vida do campo. Um longo passeio pela horta – que guarda mais de 50 variações de hortaliças, frutas, plantas comestíveis e ervas – revela cheiros e sabores inusitados. Tem Cambucá, Pitanga Preta, Capuchinha, Ora pro Nobis, Almeirão Orelha de Burro, Stevia, Peixinho da Horta e cerca de 40 árvores de espécies nativas da flora brasileira. É de lá que sai quase tudo que vai para a panela. O resultado é um aconchegante almoço preparado pelos anfitriões e servido na varanda.

O almoço é preparado pelo casal e servido na varanda do sítio. (Foto: Marcelo Belém| Instituto Rede Terra)

Gustavo também cria 11 espécies de abelhas sem ferrão. Além de conhecer os insetos de perto, ainda dá para extrair e degustar diferentes tipos de mel durante a visita. “As pessoas saem encantadas porque vivenciam coisas que não estão acostumadas a ver na cidade. Colher fruta no pé, para nós, é algo corriqueiro, mas tem gente que nunca fez. As pessoas provam coisas diferentes, aprendem”, relata Gustavo. 

Durante a vivência no Sítio Fotossíntese, os visitantes conhecem um pouco sobre o universo das abelhas sem ferrão. (Foto: Bárbara Oliveira)

Para conhecer a riqueza de Brumadinho

Para quem quer se desconectar e conhecer um pouco da vida rural de Brumadinho, vale a pena consultar o catálogo Céu de Montanhas. Com curadoria do designer mineiro Ronaldo Fraga e realização da Vale, a publicação apresenta 29 vivências turísticas no município.

O catálogo integra as ações de um programa de fomento ao turismo sustentável e é resultado de um amplo trabalho de mapeamento, assessoria técnica e sistematização da oferta de turismo rural e de base comunitária na região. Durante mais de um ano, Ronaldo Fraga e uma equipe multidisciplinar atuaram com os empreendedores da região a fim de identificar e aprimorar os potenciais locais. Com o lançamento da coletânea, disponível no site www.ceudemontanhas.com, a ideia é facilitar o acesso dos turistas aos atrativos da região