Uma escola sob o medo da lama

Desde o mês passado, os representantes da Comissão Especial dos Pais e a comunidade escolar cobram ações do poder público e da empresa Vallourec Mineração, para garantir a segurança dos estudantes na unidade

Pais de alunos da Escola Municipal Padre Xisto, em Piedade do Paraopeba, voltaram a protestar nessa quarta-feira, 1º, em frente a unidade, preocupados com a situação da escola que está dentro da área de autossalvamento da barragem Santa Bárbara, que pertence a Vallourec Mineração. O temor pelas condições de segurança da estrutura aumentou desde o ano passado, quando a empresa anunciou obras no vertedouro da barragem e após o rompimento de um dique lisa, na mina Pau Branco, no dia 8 de janeiro deste ano, causando a interrupção do trânsito na BR-040.

Desde o mês passado, os representantes da Comissão Especial dos Pais e a comunidade escolar cobram ações do poder público e da empresa Vallourec Mineração, para garantir a segurança dos estudantes na unidade. A escola recebe cerca de 250 alunos das comunidades de Palhano, Córrego Ferreira, Marques, Carneiro, Tumba, além de Piedade do Paraopeba.

O próprio Plano de Ação de Emergência – PAEBM – publicado pela empresa Vallourec, em seu relatório técnico, mostra a escola dentro da área de autossalvamento, conforme figura abaixo.

Mãe de alunos que estudam na escola, Alice Oliveira, clama por soluções. “Nós não aguentamos mais esta situação. A única coisa que queremos é ter paz e a certeza de podermos enviar nossos filhos com segurança para a escola. Todos os dias pensamos no que pode acontecer. Nossas crianças já são traumatizadas com a situação que ocorreu em Córrego do Feijão e todos os dias nos perguntam se a barragem vai romper. Nós exigimos que as autoridades do município, do Estado e o poder judiciário tomem alguma providência. Hoje a escola não tem estrutura de evacuação. Não existe nem saídas de emergências. O prédio não é adequado, cheio de puxadinhos, escadas, corredores estreitos. Fora que a quadra de esportes, onde os alunos praticam atividades de lazer é praticamente dentro do córrego”, ressalta.

A Comissão SOS Barragem denunciou o descaso das autoridades públicas e da própria mineradora. Para o representante da comissão, Reginaldo de Souza Rosa, a barragem Santa Bárbara possui uma grande quantidade de sedimentos de minério, um verdadeiro repositório de lama tóxica. “A barragem tem mais de 20 anos e possui mais de 60% de sedimentos. A Estrutura não é somente de água como dizem. Ela contém muita lama. O que nós queremos é que esta barragem seja descaracterizada e que Piedade do Paraopeba e região fique totalmente livre deste tormento, de conviver diariamente com isso sobre nossas cabeças. Já vivenciamos este drama de perto, com o rompimento da barragem da Vale, em Córrego do Feijão, e não queremos e não podemos aceitar mais isso em nossas vidas, afirmou Reginaldo.

Barragem Santa Bárbara – Vallourec

A Associação Comunitária dos Moradores de Marques pediu a suspenção do cadastramento de imóveis e famílias na região. A entidade alega que a empresa e a Defesa Civil Municipal não se reuniram com a comunidade para esclarecer a necessidade da coleta de dados e nem mesmo explicou as orientações acerca do tipo de pesquisa e quais os reais motivos. Representantes da associação aguardam uma reunião na localidade com as empresas e a Prefeitura.  

O jornal Folha de Brumadinho procurou a Prefeitura para falar sobre a situação envolvendo a barragem e a situação da escola na zona de autossalvamento. Em nota, o órgão informou que acompanha a situação da unidade e que cobra informações com atualização periódica das autoridades competentes em fiscalizar e monitorar a estrutura. A prefeitura informou ainda que tem orientado os pais que não deixem de enviar seus filhos para a escola.

Já a Vallourec segue afirmando que a estrutura é segura e que não corre nenhum risco de rompimento. Em abril do ano passado, a empresa realizou obras de adequação do vertedouro da barragem Santa Bárbara, seguindo as exigências da ANM – Agência Nacional de Mineração. A Vallourec garantiu ainda que realiza inspeções diárias no local, conforme exige a legislação.