Brumadinho precisa ir além da questão do pagamento emergencial pagos pela VALE

Brumadinho precisa ir além da questão do pagamento emergencial

Brumadinho precisa ir além da questão do pagamento emergencial

Essa semana, uma decisão da Vale mexeu com os nervos da população de Brumadinho mais uma vez. A mineradora resolveu, ainda sem muita explicação, sem critérios claros e sem saber quem ao certo teria participado desta jogada, estender o pagamento emergencial 100% para outros 9 bairros do município. Essa atitude provocou uma revolta na maioria dos moradores, de outras regiões do município e que se sentem excluídos. O que é fato. Uma vez que a mineradora Vale e seus cúmplices tem tomado decisões de forma antidemocrática, preconceituosa, injusta, sem critérios técnicos e sem ampla participação popular.

Mas, Brumadinho precisa ir além deste salário, que virou moeda de troca política. Uma barganha vergonhosa, que divide famílias, comunidades, bairros, enfim, que divide Brumadinho.

Ainda em março do ano passado, antes mesmo de começar os pagamentos, eu já alertava pra isso. O resultado está aí. O pagamento emergencial calou, de certa forma, a boca de muitas pessoas. Fez esquecer a destruição incalculável feita no nosso município. Fez esquecer as 272 vidas perdidas, sendo 11 corpos ainda debaixo da lama. Fez esquecer e encobrir a destruição ambiental imensurável do nosso ecossistema. A destruição do nosso Rio Paraopeba. Fez esquecer a enxurrada de recursos financeiros que chegam aos cofres públicos do município, sem a devida transparência.

São milhões e milhões de reais rolando nos cofres públicos, valores que não sabemos ao certo como e de que forma estão sendo usados. Contratos milionários firmados com empresas de diversas naturezas. Fato é a rejeição, por parte de alguns vereadores essa semana, de vários requerimentos, que pediam explicações sobre os gastos desse dinheiro, envolvendo obras mal feitas e contratos supostamente superfaturafos, serviços, contratações de pessoal, entre tantos outros esclarecimentos, conforme exige a LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO.

Será que vamos ficar bitolados apenas no emergencial, enquanto essas e outras questões tão importante quanto a reparação dos nossos danos pessoais, ficarão de lado? Será que não vamos exigir transparência dos gastos públicos, dos milhões repassados pela mineradora e que ela mesmo se cala? Será por que ela não contesta as informações mentirosas o tempo todo pregadas no município sobre os repasses?

No dia 2 de dezembro de 2019, uma manifestação gigantesca parou pela primeira vez o município, depois da tragédia. Dali saiu uma pauta de reivindicações com várias exigências das nossas comunidades. Uma pauta séria, que abrangia vários assuntos e que ia além do emergencial. Uma pauta que cobrava tanto da Vale quanto do poder público municipal, responsabilidades e esclarecimentos. O poder público se negou a participar naquele momento das negociações. Omitiu e negou informações pautadas naquele momento, como por exemplo, dar explicações sobre o que a Vale teria feito no município e qual o valor total repassados aos cofres públicos.

De outro lado, a mineradora periodicamente lança propagandas, em todos os veículos de comunicação, dizendo sobre suas ações, inclusive essa semana, onde ela disse ter repassado quase 200 mil itens para o combate ao Covid-2019. Onde está a verdade? Cadê a justiça que até agora não se pronunciou diante dos documentos protocolados, no dia 4 de dezembro do ano passado, na Sede do Ministério Público de Minas Gerais, com a presença também do Ministério Público Federal, em que exigíamos explicações da Vale e do Prefeito. Por que aceitam negociações a portas fechadas e sem a ampla participação das lideranças comunitárias de todas as regiões do município? Por que até agora ninguém foi verdadeiramente responsabilizado, ninguém foi preso?

A então Comissão Oficial dos Atingidos e Atingidas, criada em 2 de dezembro, durante a grande manifestação que parou Brumadinho por mais de 7 horas, foi completamente desmobilizada por parte do poder público, que viu, naquele momento, uma força popular jamais vista no município. Sentiram tão ameaçados, que inventaram uma outra comissão que nunca deu em nada. Muito pelo contrário, só atrapalhou e desmobilizou o povo.

Por que só agora batem na mesa, criam Decretos que não dam em nada, nas vésperas das eleições?

SEGUE ABAIXO A PAUTA DE REIVINDICAÇÕES:

ATO DOS ATINGIDOS PELOS CRIMES DA VALE

2 de dezembro – 5 da manha – entrada de Brumadinho

A cidade de Brumadinho desde o crime socioambiental da Vale, quando ceifou 272 vidas de trabalhadores, não voltou a sua rotina. Sabemos que o lucro para a Vale é mais importante do que vidas, rios, meio ambiente. Nossa cidade está abalada emocionalmente. Jovens, idosos, crianças, toda a população está sofrendo o impacto desse crime.

Por isso os atingidos e atingidas estão mobilizados para requerer de forma integral que seus direitos sejam reparados. Abaixo nossa pauta de reinvindicações:

• Exigimos justiça pelos crimes da mineração cometidos pela Vale, pelas vítimas assassinadas. Que não parem as buscas até que a ultima joia seja encontrada e que todos os responsáveis sejam punidos;

• Auxilio emergencial de 100% para toda população de Brumadinho sem distinção de localidade e principalmente sem data de término ou até reparação total do Município;

• Assessoria Técnica nas Comunidades;

• Psicólogos e Psiquiatras nas Comunidades;

• Transparência da Prefeitura com todo dinheiro investido em Brumadinho. Sejam repasse da Vale, Governo Estadual e Federal;

• Prestação de contas sobre o dinheiro das doações em Contas Bancária da Prefeitura da época do rompimento da Barragem;

• Representação das comunidades atingidas em espaço de debate e negociação junto as instituições de Justiça e Vale;

• Queremos sentar com as empresas que fazem extração de minério dentro do Tejuco para melhorias na comunidade;

• Que a pauta dos agricultores seja atendida;

Indenização justa para os moradores da Ponte dos Almorremas e contrapartidas para a comunidade.