Como a política pode deixar de ser o reino da mentira?

Texto 1 de 3: quem manda de verdade no país?

Opinião

Este artigo foi escrito no meio da realização de várias convenções partidárias, pelas quais são escolhidos os candidatos às eleições deste ano. Os partidos, federações e coligações estão desenhando o tipo de futuro que teremos e, dentro de alguns dias, colocarão seus candidatos e seus programas e planos para avaliarmos.

Bem, pelo menos era assim que deveria ser.

Hoje em dia, além de falta de informação e das informações erradas, temos também a desinformação, ou as fake news, ou as mentiras. Acho que a palavra “mentira” define melhor. Isso mesmo, aquilo que a mãe e o pai da gente tentaram nos ensinar a não dizer. E, de repente, ao longo de toda a existência do nosso país, constatamos que o Brasil sempre foi conduzido e governado com base em mentiras, ou seja, somos enganados o tempo todo. E pior: gostamos tanto de ser enganados que, entra eleição e sai eleição, quase sempre votamos nos mesmos que vêm mentindo para nós ao longo de toda a história.

E aí começamos a entender que os alimentos caros, que os combustíveis caros, que o enfraquecimento das políticas ambientais, que a falta de investimento em ciência, que o embrutecimento das relações sociopolíticas não são obra do acaso. São coisas pensadas, planejadas, criadas para desunir. Afinal, é bem mais fácil governar uma sociedade dividida e tumultuada, que é o que vivemos hoje.

E é tanta mentira… Querem ver só? A primeira delas: “o presidente manda”. Gente, quem manda é o Congresso Nacional. Isso mesmo, apesar de vivermos em um país presidencialista, são os deputados federais e os senadores que dão o tom de qual caminho o país segue. Querem provas? Vou pegar só os últimos 40 anos da história do Brasil.

Foi o Congresso que elegeu o presidente da República quando os militares estavam para deixar o poder. Foi o Congresso que promulgou a Constituição Federal. Foi o Congresso que promoveu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que resultou na renúncia do presidente que tinha sido eleito como “caçador de marajás”. Foi o Congresso que não deixou uma presidente da República governar e, mais tarde, derrubou-a do cargo usando uma questão técnica orçamentária para fazer julgamento político. Foi do Congresso que nasceu o movimento que levou um despreparado ao cargo máximo do país.

É o Congresso que vota e aprova as leis do país, que dizem o que podemos ou não fazer. É o congresso que vota o orçamento do Governo Federal e as emendas parlamentares (que levam uma enorme parte dos recursos públicos para os redutos eleitorais dos deputados). É o Congresso que define se um governo será ou não investigado.

Por falar nisso, você se lembra em quais deputados e senadores votou nas últimas eleições? Acompanhou os mandatos deles? Cobrou deles as promessas de campanha? Se suas respostas foram negativas, sinto dizer que você não tem direito de reclamar de nada. E tem o dever de, nestas eleições, fazer diferente e escolher direito, e dar à eleição para deputado e senador a mesma importância que dá para a eleição de governador e presidente.

Outra categoria que faz, de fato, o país funcionar são os servidores públicos. Isso mesmo, os funcionários que são sempre mal-falados, acusados de preguiçosos e malandros, são os que fizeram concurso, têm estabilidade no emprego e, por isso, conseguem trabalhar sem ficar devendo favor pra ninguém. São os técnicos de carreira que tocam os principais projetos governamentais em todas as esferas (federal, estadual e municipal). A imensa maioria dos servidores trabalha muito, gosta do que faz, trabalha de verdade para a população. E os que ficam babando de falar que funcionário público é malandro são, na verdade, os que gostariam de derrubá-los para colocar os seus cupinchas no lugar.

A eleição deste ano será totalmente diferente de todas as outras. Não será apenas uma previsível escolha de deputados, senadores, governadores e presidente. Será a civilização contra a barbárie, a verdade contra a mentira, a democracia contra a trapaça, a diversidade e o respeito contra o falso moralismo, a lei contra a ilegalidade. Desta vez, não há espaço para idealismos, fortalecimento deste ou daquele nome. O jogo agora é mais bruto. É hora de decidir, sobretudo o que NÃO queremos.