O que será da economia de Brumadinho daqui por diante?

Por João Flávio Resende


Faltando poucos dias para a tragédia da Vale completar dois anos, ainda não foram construídos novos caminhos para a economia de Brumadinho. Muito do dinheiro que circulou no município do início de 2019 para cá veio da própria Vale, tanto na forma dos pagamentos emergenciais quanto por meio de indenizações já pagas. Ou seja, dinheiro injetado que um dia vai acabar.


Acompanho a economia e a política municipal há pouco mais de 30 anos. Neste período, vi dezenas de empreendimentos nascerem e morrerem, e outros tantos surgiram e se consolidarem. Falaram em trazer indústrias, que nunca vieram. Falaram em incentivar a atividade turística, que vem se firmando a duras penas e muito mais pelo empenho da iniciativa privada do que por criação de condições por parte do setor público.


É inegável que a economia de Brumadinho cresceu muito nestas três décadas. Porém, vejo como uma espécie de crescimento vegetativo, na esteira do crescimento populacional, o que se configura como algo quase natural, sem praticamente nenhum incentivo, sobretudo do setor de comércio e serviços. E foi um crescimento muito focado na área urbana. É necessário reconhecer avanços já conquistados no campo, mas ainda falta muito. Produtos agropecuários ainda são vendidos in natura, sem valor agregado, sem beneficiamento que possa fazê-los sair do campo já valendo mais. Se fosse assim, todos sairiam ganhando: os produtores, os comerciantes, os consumidores, a própria Prefeitura ao arrecadar mais impostos.


E não precisa andar muito. Em qualquer voltinha pelo município, é fácil encontrar gente empreendedora, que só precisa de um empurrãozinho do poder público, de um pouco de planejamento e instrução para alavancar seus negócios, sobretudo agora, no meio da pandemia, com tanto desemprego e com tamanha queda da atividade econômica como um todo. Obviamente, num projeto deste tipo, em algum momento a Prefeitura sairia de cena para que os empreendedores passassem a caminhar com as próprias pernas.


Então, por que a Prefeitura ainda não foi utilizada como catalisadora desta transformação econômica de Brumadinho? Arrisco-me a dizer que os prefeitos que já passaram pelo cargo nunca se interessaram verdadeiramente por este tema, justamente por nunca ter faltado o colchão econômico-financeiro da mineração. E, mesmo com a mina da Vale parada desde janeiro de 2019, a empresa, como dito no primeiro parágrafo, não parou de “sustentar” a economia local.


E, no meio de tudo isso, 11 pessoas ainda constam como desaparecidas na região do Córrego do Feijão, o que vem prolongando a dor e a angústia de suas famílias, sem falar no operador de retroescavadeira morto no último dia 18 na região. Particularmente, eu não esperava que fossem localizar e identificar tantas vítimas, mas os Bombeiros executaram um trabalho primoroso de inteligência, planejamento e ações focadas. As 272 pessoas que se foram com o rompimento da barragem serão sempre queridas e lembradas, perfazendo uma cicatriz que jamais se fechará completamente, sobretudo se a atividade minerária continuar dando as cartas por aqui.