Pequeno dicionário da pandemia

Covid-19 Corona Virus - Brumadinho
João Flávio Resende - Colunista Folha de Brumadinho

Opinião

Por João Flávio Resende

Na situação gravíssima que vivemos hoje no Brasil em relação ao coronavírus, faz-se necessário destacar alguns termos sempre abordados desde quando os primeiros casos começaram a ser registrados por aqui. No momento que este texto é escrito, o país atinge 1.000 barragens da Vale em número de mortes pela Covid-19.

AGLOMERAÇÕES – São hoje o maior fator de contaminação, de espalhamento da doença e de surgimento de mutações do vírus. Não adianta mais tentar educar, conscientizar, convencer. São promovidas sobretudo pelos mais jovens, que estão gradativamente se tornando as maiores vítimas da Covid.

ANSIEDADE – Um ano de pandemia no Brasil já é suficiente para o surgimento de milhares de casos de de ansiedade e depressão, seja pelo medo de ficar doente e de contaminar outras pessoas, seja pelo isolamento e pela impossibilidade de realizar quase qualquer atividade coletiva e/ou externa.

ÁLCOOL – Tornou-se um dos principais de combate à pandemia. Deve ser usado, sobretudo em gel, quando não for possível lavar as mãos. Eu uso também para desinfetar compras e a sola do calçado ao entrar em casa.

B, O PRESIDENTE – Nego-me a escrever aqui o nome do principal responsável pelo caos que estamos vivendo. Não foi ele que criou o vírus, mas suas atitudes irresponsáveis, suas mentiras e sua vontade de que o vírus se propague estão contribuindo sobremaneira para as milhares de mortes, sem falar nas pessoas que passaram pela Covid mas ficaram com sequelas, muitas delas irreversíveis.

CIÊNCIA – A grande vitoriosa. Desenvolveu várias vacinas em tempo recorde, que já estão salvando vidas mundo afora. Felizes os países que investem pesado na ciência.

DISTANCIAMENTO SOCIAL – Parece bobagem, mas ficar o mais longe possível das pessoas é uma das principais formas de frear o contágio pelo coronavírus. Há locais em que o distanciamento é praticamente impossível, como no transporte coletivo, um dos grandes desafios do poder público.

ECONOMIA – A economia do país já vinha mal, e vem piorando a cada dia, com constantes aumentos de preço, sobretudo em setores-chave, como alimentos e combustíveis. O fechamento de atividades para reduzir a circulação de pessoas joga ainda mais lenha na fogueira. Contudo, precisamos lembrar que mortos não consomem.

ESSENCIAL – De repente, os trabalhadores mais mal-pagos, que são os que prestam os serviços considerados essenciais, tornaram-se os mais importantes para manter a sociedade funcionando minimamente: comerciários, entregadores, operários, frentistas…

– Importantíssima neste momento de dor, apreensão e incerteza, mas ela sozinha não garante as coisas. Precisamos de atitudes. “A fé sem obras é morta.”

FORÇA-TAREFA – Era o que o governo federal deveria ter feito desde o início, unindo , prefeitos e presidente numa coordenação central de enfrentamento à pandemia, com ações únicas para o país todo. Poderia ter evitado pelo menos umas 150.000 mortes até agora. Neste momento, governadores e prefeitos buscam se unir sem a participação do governo federal, que não fez nada para evitar essa catástrofe.

GENOCÍDIO – A maioria das vítimas da Covid são a população idosa e a mais pobre, justamente os que “dão mais despesa” para o governo. Coincidência?

HIGIENIZAÇÃO – A constante limpeza que fazemos das mãos, roupas, superfícies e objetos acabou por prevenir também outras doenças, como gripes, resfriados e outras infecções.

HOSPITAIS – Quando nada mais deu certo, é aí que o problema desemboca. Estão todos lotados, entrando em colapso. Temos hoje milhares de pessoas correndo o risco de morrer sem atendimento. A capacidade dos hospitais é limitada e continuará sendo, mesmo que multipliquem por 10 os leitos. Se nada for feito, o que entrará em colapso serão os cemitérios.

ISOLAMENTO – Por causa da imensa lentidão da vacinação, ainda é a principal forma de evitar a propagação da Covid.

LOCKDOWN – Termo em inglês para fechamento das atividades. Nunca foi feito de verdade no Brasil, uma das razões para a explosão de casos e mortes.

MÁSCARA – Virou peça essencial do vestuário. Só que, no queixo, pendurada na orelha, dentro do bolso ou com o nariz pra fora, a proteção é zero.

MENTIRAS – Nunca vi tanto boato e tanta coisa falsa propagada quanto neste período de pandemia. Nem vou listar aqui, senão ninguém vai ler por causa do tamanho do texto.

MORTES – No dia 10 de março de 2021, passamos pela primeira vez do patamar de 2.000 mortes diárias pela Covid. Equivale à queda de 12 Boeings 737 lotados. Por dia. P-o-r d-i-a.

NEGACIONISMO – Um certo presidente chamou a pandemia de “gripezinha”, não usa máscara, promove aglomerações, fala alguma baboseira toda semana contra as medidas de prevenção, diz um monte de mentiras e ainda manda a população parar de chorar e seguir a vida.

OMISSÃO – Não fazer nada é tão ruim quanto sabotar. Nem preciso dizer quem está fazendo isso.

POLITICAGEM – O início da vacinação no Brasil ficou marcado pela disputa política. Enquanto os prováveis candidatos para 2022 brigam, o povo segue morrendo.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE – Junto com os cientistas e os trabalhadores dos serviços essenciais, são os grandes heróis. Neste momento, sofrem de esgotamento físico e emocional. Sem contar que, por estarem cara a cara com o vírus todos os dias, se contaminam e também morrem.

RESPONSABILIDADE – O inoperante Ministério da Saúde, em dado momento, parou de divulgar os boletins diários sobre a Covid. Foi necessário que grandes veículos de imprensa se organizassem em consórcio para informar diariamente os dados. Lamentável. E isso é o mínimo.

SAUDADE – A tristeza, o luto, a impotência, a revolta e a saudade de quem se foi dominam o nosso cotidiano. Perdi inúmeros conhecidos, tenho outras pessoas amigas entubadas em UTIs, perdi dois colegas de trabalho…

SOLIDARIEDADE – Precisamos continuar nos ajudando, sem parar. E nos cuidando mutuamente.

TEMPO – A sensação de tempo passando rápido piorou muito com a pandemia. Isso pra quem está vivo. No último dia 10 de março, foram 2.349 mortes no Brasil. Isso dá três mortes a cada dois minutos.

UNIÃO – Precisamos todos nos unir. Conscientizar família e amigos para os cuidados. É o que nos resta, cada um se proteger e proteger os seus.

UTI – Nunca as Unidades de Terapia Intensiva foram tão faladas. Já há fila de pacientes esperando por vaga em praticamente todo o país. Você tem ideia do que é esperar por UTI? É risco de morrer a qualquer momento sem o devido atendimento. E não adianta brigar no hospital: vaga de UTI não é só cama e respirador, é também a equipe que vai atender o paciente. Leva-se anos para formar um médico intensivista.

VACINA – Que venha logo para todos. De qualquer nacionalidade, de qualquer laboratório. A lentidão na vacinação é inadmissível. E foi provocada, entre outros fatores, por omissão do governo federal, que se negou a negociar com os laboratórios no ano passado, antes da finalização dos testes. Só pra comparar, em pouco tempo os Estados Unidos terão 500 milhões de doses à disposição: a população lá é de 325 milhões de pessoas. Enquanto isso, no Brasil…

ZELO – Vamos continuar zelando por nós e por todos que nos cercam. Evitar visitas, festas, procurar sair somente para o necessário e pelo tempo necessário. Máscara, álcool gel, distanciamento, mesmo depois de vacinados. Cada vida salva é uma dor a menos.